DECLARAÇÃO À NAÇÃO

"Jormalismo", música, artes em geral, crítica cotidiana, política, esportes, talvez nessa ordem de prioridades. Algo sintético, breve, objetivo, mas sem restrições. Sejam bem-vindos, e aproveitem para comunicar-se livremente.

Mais do mesmo assunto no primeiro post deste blog

domingo, 21 de março de 2010

HOJE ALGO PRECISA SER DITO - SOBRE FUTEBOL NOVAMENTE

Hoje algo precisa ser dito. E por mais pessoal que pareça, quero com isso discutir uma situação mais geral, que parece corroer nossa sociedade de uma forma que todos parecem ver e sentir, mas como de costume faz com que todos pareçam se acomodar e adaptar a tais coisas sem dar ao menos a chance de se pensar se é certo ou errado que se continue assim. Falo aqui do comportamento padrão do torcedor de futebol no Brasil, em São Paulo especificamente.


Sendo torcedor do São Paulo F.C., e acompanhando o futebol desde a tenra infância, comecei a usar as novas tecnologias para me associar e aproximar de torcedores do mesmo time, algo simples nos dias de hoje com as redes sociais pela internet. Contudo, me intrigou profundamente nessa rede a partir da metade do ano de 2008 um absoluto radicalismo de opiniões a respeito do então técnico do time, Muricy Ramalho. Eram opiniões por demais contundentes e até mesmo agressivas, ditas num momento completamente ilógico, pois o time estava em ascensão no ano, saindo de uma condição em que tinha 1% de chance de conquistar (mais um!) título do Brasileiro para uma liderança então iminente.

Mas tudo que era dito ali contrariava qualquer bom senso, e por mais que se argumentasse ninguém com opinião diversa era ouvido. Pensei que isso era um sintoma restrito aos abonados e desocupados internautas que se dedicavam a se expressar em tal comunidade, visto que eram mesmo representantes das classes econômicas mais altas do país. Foi quando começaram a surgir manifestações de pessoas de classes mais baixas, notadamente ligados a torcidas organizadas e que escreviam de maneira quase tão incompreensível do que quando falam.

A partir daí, visto que o comportamento geral ali era de histeria e ignorância por todo lado, senti que aquelas opiniões não podiam ser associadas a mim. Portanto, pensei por bem me desfiliar de tal comunidade para que pudessem dizer o que quisessem sem que eu tivesse a preocupação de que estaria sendo conivente com aquilo ou que pudessem tomar tudo ali como minha opinião, pois a partir do momento em que compactuo com isso me mantendo entre eles, eu seria no mínimo cúmplice do que era dito.

Não quero com isso dizer que eu era melhor que eles, como se estabelecesse uma barreira, mesmo sabendo que inconscientemente estabelecemos uma divisão entre todos nós. Só damos a ela maior ou menor importância conforme nossa sociabilidade e educação para a tolerância mútua, até porque essas divisões também existem na sociedade de forma mais ou menos explícita. Essa separação entre “eles” e “nós” é, por exemplo, cada vez mais evidente nos estádios.

No caso particular do Morumbi, estádio do São Paulo F.C., há o setor laranja, onde ficam as organizadas, e o azul, onde ficam os “sócio-torcedores”. Os próprios torcedores e até a imprensa lembram de tempos em tempos o quanto ambos divergem de opinião, de que um lado seria mais moderado e outro mais radical, etc, como que querendo embasar a flagrante diferença social entre eles. Em muitas ocasiões, chegou-se inclusive à troca de ofensas mútuas durante o jogo entre espectadores dos dois setores.

Há um caso recente no clube que pareceu reacender essa divisão, a discussão sobre a suposição de que o volante do time Richarlyson seria homossexual e o quanto isso atrapalharia desde o desempenho do time até a auto-estima dos torcedores, frequentemente associados a símbolos que (principalmente na nossa cultura) são alusivos a tal comportamento. Por muito tempo, as posturas adotadas por ambos os lados pareciam estanques e definidas: de um lado, os organizados se colocavam explicitamente contra sua presença no time, enquanto no setor azul os torcedores diziam que isso era um “absurdo” que depunha contra o clube, que apoiavam seu futebol, etc.

Hoje, essa divisão não existe mais. Os que o defendiam da boca pra fora, bradam xingamentos de canto de boca a cada erro de execução da parte do jogador. Os que o atacavam tentam, mesmo que timidamente, aceitá-lo como parte do time, entoando seu nome entre os demais, mas também mantendo inerte um comportamento agressivo a respeito dele que a qualquer momento está pronto a explodir em violência não apenas sobre ele, mas sobre todos os que “pertenceriam” á mesma turma.

Não sei o quanto um estádio potencializa esse tipo de comportamento mais impulsivo da parte de pessoas que, teoricamente, poderiam ser consideradas “bem educadas”, assim como há teorias a respeito de como o trânsito pesado do dia-a-dia modifica o caráter dos condutores. Talvez seja a questão do estar em grupo, fazer parte de uma massa de pessoas e assim sentir-se mais poderoso e propenso a ir além dos limites que o cotidiano impõe, pois todo comportamento “condenável” no dia-a-dia pode ser tolerado e até exaltado nesse ambiente. Ou seja, o estádio e seu entorno seriam lugares que permitem tudo, e em nome da “honra” do time, poderia-se estender tal comportamento para além desse ambiente, daí os confrontos que hoje ocorrem numa distância cada vez maior dos estádios.

Essa pode ser uma linha a se seguir, visto que também por muito tempo pensou-se que a internet, e as redes sociais nela inseridas, também eram lugares desregulados, onde valia tudo, onde também se pensava que as regras sociais cotidianas poderiam ser transgredidas sem pudor e sem dor na consciência, daí a exposição tão explícita de pedófilos e comportamentos sexuais de todo tipo. Uma situação cotidiana vista recentemente vai de encontro a esse dado, a partir de uma conversa banal num shopping de São Paulo, onde um rapaz com camisa do Corinthians conversava com um trabalhador do local a respeito das “façanhas” do time, do seu espírito “guerreiro”, de como no jogo seguinte iria “arrebentar” novamente o referido adversário, etc.

Mas o que mais chamou a atenção foi quando o rapaz disse que passou por uma situação de “risco” por ali, exultando por ter passado no meio de um “bando” de pessoas com camisas do São Paulo F.C. como se tivesse cruzado linhas inimigas, e que estranhou o fato porque “nem era dia de jogo” pra que eles estivessem ali “vestidos desse jeito”, para depois também bradar que “nós tem (sic) uma estação pra nóis (sic!!) e eles não” e que “lá em Itaquera eles não iam estar (sic!!!) desse jeito”. Essa sua expressão, infelizmente, é padrão para muita gente. Essa idéia de que estamos em meio a uma “guerra” declarada, que é aberta em dias de jogo seja lá onde for, é lugar-comum hoje e algo sentido até por quem não está diretamente envolvido nas “batalhas” por “marcação de territórios” imaginários.

É quase como se vivessem num mundo paralelo, num gigante RPG que não tem fim em si mesmo, apenas segue em direção a um nada do qual não querem nem saber de questionar ou sair, como se as coisas fossem definitivamente dessa maneira e ponto. E isso acaba sendo potencializado por uma mídia também cada vez mais ignorante e inconsequente, desde o comercial que mostra como trabalhadores “comuns” se vêem transformados em “guerreiros” na simples junção dos elementos futebol-cerveja até as manchetes ufanistas e exultantes dos diários, visto que muita gente nos dias de hoje lê apenas tal manchete no caminho para o trabalho, tomando aquilo como sua tradução da realidade. Há de se ter uma responsabilidade maior sobre o que se expressa, não como uma forma de censura ao que é feito, mas para se trabalhar a sociedade de uma forma mais construtiva que destrutiva, pois como já foi dito muitas vezes uma parte do todo é tomada como verdade absoluta e levada adiante sem que haja discernimento da parte do receptor. É preciso que ele veja que toda questão apresenta múltiplos pontos de vista e que sua verdade pode não ser a verdade do outro.

Posso dizer, por exemplo, que li 3 opiniões diversas a respeito de um jogo visto recentemente que divergem da visão que eu tive da partida, ao mesmo tempo que alguns aspectos do ponto de vista deles convergem com os meus. Isso é de certa forma um reconhecimento da minha parte ao fato de que vivemos em sociedade, e de que ela tem seus próprios meios para que eu mostre meu contentamento ou descontentamento com ela. A partir do momento em que pareço viver sem considerar isso, a chance de cair nesse “mundo paralelo” em que parecem viver muitos torcedores é grande. Mas a ignorância não pode e não deve imperar na nossa sociedade, nem no futebol nem em parte alguma. Resta saber quais os comportamentos que todos nós iremos adotar para que cheguemos a esse objetivo.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

UM POUCO ALÉM DO ESPORTE BRETÃO – DE CORNETAS E INTERESSEIROS

Há quem pense ter uma influência maior do que revela a realidade, ou que na verdade apenas quer manter aparências para quem ainda crê nelas. Em um mundo de comunicação veloz onde as notícias são espalhadas pelas dezenas de veículos de várias mídias muitas vezes como ecos de um grito num precipício, apenas como repetição, quem emite uma opinião qualquer acaba caindo numa faca de dois gumes: ou mostra personalidade frente à opinião pública; ou deixa entrever algum interesse escuso.

Um ótimo exemplo disso se deu no último domingo, com a partida Corinthians x Palmeiras no Pacaembu, em São Paulo. Quem acompanhou a partida pela rádio Jovem Pan, rede nacional líder entre as AMs, teve a impressão de um tom mais áspero na transmissão da partida. Muitas opiniões, proferidas principalmente pelo jornalista Flávio Prado, mostravam um clima de confronto e disputa diferentes do que se via em campo. Vejamos algumas dessas opiniões:

“Nunca vi tão pouca gente num clássico desse porte.”

Primeiro exemplo de mal jornalismo aqui: isso é dito a partir de um ponto de vista individual que sequer dá oportunidade para outros de se certificarem do que ele está dizendo. Esse poderia ser considerado um vício comum a alguém como ele que trabalha tanto em TV como em rádio, pois são muitos os que ainda acreditam na máxima de que "uma imagem vale mais do que mil palavras". Mas o pior é que nenhuma informação é dada sobre o fato, ou seja, devemos literalmente confiar "cegamente" no que ele está nos dizendo. Mas o argumento acaba sendo facilmente derrubado quando confrontado com um dado para ele irrelevante: o número declarado de pagantes foi de mais de 28 mil, sendo que no último jogo entre eles (que nem foi em São Paulo) o público foi de apenas 18 mil.

“A TV rouba gente do estádio”

Essa afirmação está possivelmente embasada no fato de que a partida estava tendo transmissão da TV para a própria cidade onde era realizada, e de que este canal de TV (preciso dizer qual é?) é o que detém a liderança hegemônica da mídia deste país. É um argumento válido, mas foi dito como se fosse um fato inédito, o que logicamente não é. Além disso está baseada no fato de que devemos ter acreditado no que ele disse antes, sendo que sua visão já era totalmente parcial e equivocada. Isso mostra que a "inverdade" inicial acaba desqualificando qualquer "boa intenção" do discurso.

“Olha lá, o repórter da TV tá (sic) depois da linha, porque o nosso tem que ficar atrás?”

Aqui, além da repetição do erro de querer que a gente veja o que não podemos ver, cabe um esclarecimento a respeito do porquê de tal questionamento: a Jovem Pan iniciou uma campanha contra uma medida da Federação Paulista de Futebol de não permitir repórteres em campo, algo que para eles beneficia ao tal "canal que detém a liderança hegemônica da mídia". Apesar de tal medida ser estendida a todos os profissionais, a rádio tomou as dores para si e toda e qualquer opinião dela acaba sendo feita para fortalecer essa idéia. Portanto, infelizmente nem mesmo podemos garantir que o tal "repórter da TV" estava realmente infringindo a regra se não confiamos ("cegamente", lembrando) que tudo que foi dito até então era verdadeiro.

Há um certo desconforto quando se percebe que aquilo que se vê e ouve é feito para embasar uma determinada tese de um veículo de mídia, não para esclarecer um fato. Além disso, essa é uma briga de cachorro grande, pois se o canal de TV é acusado de homogeneizar o pensamento nacional mostrando para todo o país um "mundo ideal á parte" no Rio e em São Paulo através de suas novelas, a rádio Jovem Pan não faz diferente ao montar em sua rádio FM uma rede com o pior do pop mundial, onde se ouve a mesma porcaria do Black Eyed Peas de Norte a Sul, sem espaço para qualquer expressão local. Ou seja, é o roto falando do esfarrapado.

Outra possível razão para esse confronto é a própria perda de espaço do rádio nas grandes cidades, pois assim como os torcedores acompanham as partidas através dos celulares com TV em um número sempre crescente, eles estão cada vez mais cansados das narrações radialísticas que falam mais dos patrocinadores que do próprio jogo (saudades de Osmar Santos e Fiori Giglioti.. :( )

Além disso esta campanha talvez sirva para se pensar numa possível crise da mídia nacional, onde cresce a sensação de que não há mais "pensamento único", e que há cada vez menos inocentes "cordeirinhos" para seguir os muitos "pastores" (ou simplificando, cada vez menos índios pra muito cacique). O Jornal Nacional não repercute mais como antes, assim como o rádio também perde espaço para mídias mais plurais e ágeis como a internet. Aliás, digo que se o próprio rádio não tivesse migrado suas transmissões para a rede, de maneira autorizada e legal, já estaria hoje num processo de falência mais forte que o das gravadoras.

Assim, os outrora “gigantes” da mídia brasileira, que a bem da verdade continuam ainda sendo os maiores, tem que mostrar cada vez mais serviço para não perderem seus públicos para veículos que mostram um “outro lado” daquilo que se está falando.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

ÚLTIMOS LANÇAMENTOS - MÚSICA


Apesar do parâmetro ter mudado, pois cada vez menos se pensa no “lançamento físico” de um álbum, mas sim em quando foi seu “vazamento” na net, falaremos aqui de discos que estão nos dois formatos, inclusive ressaltando quando um determinado álbum está disponível apenas na internet ou também em CD. Começamos então falando destes lançamentos:
Þ          GIRLS – Album – Nada como começar com um disco de nome “emblemático” e tão “hypado” pela mídia “especializada”. Celebrou-se nesta obra um alegado retorno à atmosfera despretensiosa e experimental da música da Califórnia nos anos 60, que culminou em bandas como os Beach Boys, além do “grande alcance vocal de seu líder”, o "errante" Christopher Owens, e da “melancolia implícita” dentro de canções aparentemente escrachadas. Mas nada, absolutamente nada neste disco é digno de nota ou de qualquer comentário mais substancial. Sua voz é absolutamente irritante, sua “sofrida história de vida” não acrescenta nada à música que tenha criado, além de que o decalque de bandas daquele período é tão descarado que dá sono. Melhor esquecer que isso existe, assim poderemos ser mais felizes e menos bobo-alegres. Nota 2. Disponível em CD e download.

Þ          VAMPIRE WEEKEND – Contra – Com um nome enigmático (seria o “do contra” do português, ou o “contralto” da música erudita?), o aguardado segundo álbum da banda de New York vem numa toada um pouco diferente da estréia. A percussão perdeu um pouco do espaço para os violinos e o clima geral é de maior leveza. Talvez foi a maneira encontrada para diminuir a pressão por um disco sucedido, e isso eles conseguiram. Mesmo que não tenha atingido os níveis de energia do disco anterior, muitas músicas são absolutamente memoráveis e gostosas de ouvir. Destaque para “Horchata”, “Run” e os “quase hits” “Holiday” e “Cousins”. Nota 7,5. Disponível em CD e download.

Þ          THEE SILVER MT. ZION MEMORIAL ORCHESTRA – Kollaps Tradixionales – Esse grupo remanescente do já lendário Godspeed You Black Emperor, oriundo de Montreal (Canadá), tenta retrabalhar suas idéias (musicais e sociais) estabelecidas de forma a se tornar cada vez mais urgente e até agressivo, mas sem perder o gosto pelo blues e pelo sublime. A longa introdução “There is Light” não diz exatamente a quê o disco veio, mas o lado mais agressivo e experimental aparece logo depois em “Built Myself a Metal Bird” e em sua seqüência, de uma forma até inédita na trajetória da banda, provavelmente fruto da dissolução do coral que o acompanhava e que de certa forma direcionava a energia de todos para composições mais leves e etéreas. Mas o lado sublime vem à tona de forma magistral a partir das suítes que dão nome ao disco e especialmente na última faixa, “´Piphany Rambler”, forte e emocionante na medida certa. Grande disco de verdadeiros heróis da resistência underground. Nota 8. Disponível em download.

DISCOS AO VIVO:

As gravadoras começam a perceber que um dos possíveis problemas para a cada vez maior queda na venda de CDs possa ser a insipidez da safra atual de artistas do pop/rock, feita de gente que não vai além do segundo álbum. Assim, lançam gravações de artistas estabelecidos e respeitados para tentar salvar a própria lavoura, e acabam também por revelar o porquê deles serem o que são, pelo carisma, talento e perenidade de sua obra.

Þ          Começamos falando do NIRVANA, gravado no Festival de Reading em 1992, quando a banda estava no seu auge. O artigo de José Flávio Júnior na edição de janeiro da revista Bravo! resume tudo o que se podia dizer do show (irônico, como a já clássica imagem de Kurt acima, entrando no palco; enérgico, poderoso, etc), mas faltou dizer que esse era o retorno ao festival inglês depois de 2 anos, pois foi a aparição deles ali em meados de 1990 que fez com que se despertasse maior atenção para o que eles poderiam fazer (aquele foi inclusive o primeiro show onde tocaram “Smells Like Teen Spirit”, do vindouro álbum “Nevermind”). Som alto, no talo, com música que parece não acabar mais.

Þ          Outro álbum assim é o do R.E.M., gravado em Dublin em 2008, em que se alardeia na capa o fato do álbum conter 39 canções da longeva banda. Tem de tudo, desde o primeiro álbum até o então último, para o qual estavam em turnê. O álbum não capta tão bem a atmosfera do público, mas a banda está vigorosa, tanto que há poucas baladas no repertório. Vale mais pelo registro oficial, mesmo que já houvessem outras tantas gravações de shows memoráveis deles espalhadas por aí.

P.S. Quem você acha que o Peter Buck queria "impiechar"? Vale qualquer resposta!! A melhor delas ganha uma prenda.

Þ          Um artista para o qual não há prejuízo de se ouvir mais e mais é seguramente LEONARD COHEN, aqui revivido através de sua performance desconcertante no festival de Isle of Wight, Inglaterra, em 1970. Nota-se o quanto estava apreensivo e incomodado com o clima de latente violência por parte do público de 600 mil (!!!!!) pessoas. Isle of Wight deveria ser um equivalente inglês a Woodstock, mas os jovens ingleses nunca se entregaram totalmente à filosofia hippie, sempre demonstrando um pendor por um comportamento mais agressivo (que poderia explicar porquê Iggy Pop e o “punk” em geral explodiram em sucesso primeiro por lá) e também fazendo do festival uma salada de várias tendências políticas de esquerda, quase como um Fórum Social Mundial, mas com todo mundo á flor da pele. Mas com o poder de sua música e o respeito a ela por parte do público todo o ambiente acabou sendo pacificado de forma memorável. O áudio tem qualidade de bootleg, mas isso é o de menos. Ouça cada minuto com deleite, tanto do CD quando do DVD que o acompanha, com algumas das performances do concerto entremeadas com entrevistas da época.

MELHOR FILME DE 2009 – O VENCEDOR


Aqui houve polêmica: o público escolheu ABRAÇOS PARTIDOS, belo filme de Pedro Almodóvar, mas a crítica daqui escolheu outro.

Assim, o melhor de todos é.......




ENTRE OS MUROS DA ESCOLA – Dir: Laurent Cantet (FRANÇA) – Um filme que se propõe a ser não apenas “reprodução da realidade”, mas experimentação das várias possibilidades abertas pelo ser humano dentro de uma de suas instituições universalmente consagradas. Por mais que os envolvidos sejam os mesmos da obra original publicada em livro, com o professor-escritor liderando uma sala de aula multi-étnica na periferia de Paris, uma experiência nunca é igual á outra, não importa o número de repetições. Assim como cada opinião emitida pelo filme e através dele não vai ser de forma alguma igual á anterior. Essas opiniões devem apenas achar um meio de convergirem num bem comum a todos á sua volta. Sempre haverá aqueles que pensam ter encontrado essa resposta; outros não, como o próprio professor, mas continuarão buscando-a, enquanto outros desistem, ás vezes porque são forçados a tal. E assim o final mostra-se como uma oportunidade para um recomeço, mesmo que incerto.

MELHOR ÁLBUM DO ANO 2009 - O VENCEDOR

Depois de algum tempo, público e crítica deste blog concordaram, e o melhor álbum do ano passado foi:





ANTONY & THE JOHNSONS – The Crying Light  - Este peculiar artista anglo-americano lançou um álbum muito mais subjetivo e impessoal que seus dois últimos. Muita gente coçou a cabeça pra entender suas intenções (como assim ele fala de família, medos, doença, morte, natureza?), mas ainda assim a densidade das canções e a força de sua interpretação deste mundo tão sombrio e instigante perduraram de forma mais incisiva do que as críticas e garantiram a este artista e seu grupo um posto no panteão dos mais importantes da atualidade. Destaques para “Aeon”, “Epilepsy is Dancing” e “Kiss my Name”.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

MELHORES (E PIORES) FILMES DE 2009


Pensou que não ia haver lista de melhores filmes? Pois aqui está! A apresentação segue a mesma lógica dos melhores discos, separados em “categorias” dignas de um Oscar (ou, mais “modestamente”, de um César...). Os escolhidos são:

MELHOR ADAPTAÇÃO LITERÁRIA




GOMORRA – Dir: Matteo Garrone (ITALIA) – Aqui, o mérito está não apenas em apresentar decentemente a obra de Roberto Saviano, escritor agora cerceado pelas ameaças. Mas também nos recortes dados na estória original que ajudaram a iluminar ainda mais o círculo vicioso comandado pela Camorra napolitana, colocando isso de forma não conclusiva, pois ainda que as ações anti-máfia tenham resultado será difícil tirar destas pessoas a mentalidade de que é melhor tirar vantagem sobre o próximo do que trabalhar junto a ele (vide as impactantes estórias do alfaiate e do rapaz que é levado a se envolver com negócios escusos). Um grande filme, que merecia ter mais atenção do que teve.

MELHOR FILME “BASEADO EM FATOS REAIS




KATYN – Dir: Andrez Wajda (POLÔNIA) – Este é mais um filme de guerra, mas ligeiramente diferente da média. Primeiro, por focar algumas visões mais pessoais sobre a “resistência” polonesa à ocupação alemã, onde se brigava mais no campo das idéias do que no campo de batalha. Segundo, por mostrar a expectativa dos prisioneiros de guerra de que a verdade sobre a condição deles seria revelada e passada adiante. De todos os lados, Wadja quis mostrar os poloneses como vítimas, mas nunca passivos de sua situação.

MELHOR FILME NACIONAL




TERRA VERMELHA – Dir: Marco Bechis (ITALIA-BRASIL) Num ano em que as produções brasileiras de ficção foram em geral problemáticas ou muito fracas, o filme que melhor aborda o país e que traz em si uma estória mais verossímil foi realizado por um italiano (a bem da verdade, este diretor é na verdade um “cidadão do mundo”, tendo já morado inclusive em São Paulo). Mostrando conflitos entre uma tribo de uma reserva de Dourados (MS) com um fazendeiro local de uma forma imparcial e ainda assim afirmando sua posição em relação á degradação da região, este filme dá a nós, seres urbanóides, uma boa idéia do que ocorre no Brasil profundo e distante cujo cotidiano parecemos ignorar.

MELHOR DOCUMENTÁRIO




VALSA COM BASHIR – Dir: Ari Folman (ISRAEL) – Um filme pessoal e instigante, que ultrapassa várias barreiras metalinguísticas auto-impostas a muitos realizadores. Ele talvez não tivesse muito a dizer a respeito do assunto central de seu projeto no início dele, mas foi exatamente a busca por respostas que o instigou a ir adiante. Com isso, sem ser um filme de guerra, nem puramente (psic)analítico, através do universo “lúdico” e distanciado da animação o diretor nos prepara para o baque final, quando o subconsciente se torna consciente e tudo se encaixa. Mesmo que essa revelação não seja muito agradável a respeito da natureza humana.

MELHOR FILME DA MOSTRA INTERNACIONAL DE SÃO PAULO




35 DOSES DE RUM – Dir: Claire Daines (FRANÇA) – É um prazer assistir um filme assim, com uma estória dramática, mas não melancólica; pungente, mas não pesada; e por fim por suas conclusões otimistas, mas realistas, a respeito da vida. Um pai e uma filha que se vêem de uma hora pra outra de luto, sozinhos no mundo, tendo de tocar a vida e encarar as pessoas com a mesma força e ainda esperando que algo ou alguém os faça mudar de rota. Nestas horas não vale mesmo a pena se isolar, é a grande idéia deste filme, que também merece ser mais visto se assim o circuito nacional permitir.

E como não podia deixar de ser também abrimos espaço para o nosso “troféu Framboesa de Ouro” particular!!! A seguir, os piores do ano no geral e em suas categorias:

PIOR FILME DA MOSTRA INTERNACIONAL DE SÃO PAULO




SELVAGENS – Dir: Lawrence Gough (INGLATERRA) – A Mostra de SP é pródiga em apresentar filmes que na verdade deixam a sensação de uma enorme perda de tempo, por ser feita também de apostas (leia-se “tiros no escuro”) da curadoria, que nem sempre são certeiras. Este filme, por mais que tenha a chancela da BBC (que financiou grande parte do projeto), é uma salada mista de filmes de terror ao estilo “Jogos Mortais” com uma crítica asséptica e forçada à política belicista do governo britânico frente à “ameaça” terrorista, lidando também com o medo da população de um subúrbio de forma batida e ignorando a inteligência do espectador. O pior filme visto pelo blog nesta Mostra, por mais que haja a lenda de que sempre há filmes ainda piores por aí....

PIOR FILME DO ANO




LULA, O FILHO DO BRASIL – Dir: Fábio Barreto (BRASIL) – Apesar do filme ter estreado no início de 2010, ele é uma obra de 2009 e ponto final. E por mais que houvesse boas intenções, como sabidamente diz o povo “de boa intenção, o inferno já está cheio”. Além disso, este filme carrega muitos dos vícios das fases pré e pós-retomada da produção cinematográfica brasileira, desde gritarias inúteis a longos períodos sem fala não como recurso dramático, mas por falta de roteiro mesmo. Ao menos o filme não tem muita violência explícita nem palavrão, daí o “índice de clichê” seria ainda mais alto, e assistir o mesmo me fez ter uma enorme vontade de assistir “ABC da Greve”, de Leon Hirszman, um dos filmes que o diretor utilizou para dar estofo ao que não tinha substância, ou seja seu próprio filme.

MELHORES FILMES DE 2009 – OS INDICADOS

Aqui no SINTEXTICO também inflacionamos os indicados a MELHOR FILME DO ANO, assim como o Oscar fez neste ano. Pelo menos na nossa eleição os indicados não serão 10, mas 8 (talvez seja um número mais cabalístico, acho que vou consultar minha numeróloga a respeito...).
Os indicados são:

O CURIOSO CASO DE BENJAMIN BUTTON (EUA) (EU GOSTEI SIM E DAÍ??????)


Entre os indicados, há um documentário (“Bashir”) e uma “nova versão” (“redux”) de um filme da década de 90 (“Cinzas”), mas o que importa é que são bons. Além disso, há 3 filmes completamente ficcionais e fantasiosos, saídos das mentes deveras doentias de seus diretores (nem tanto no caso do Almodóvar, coitado) e 3 adaptações literárias (“Gomorra”, “Entre os Muros” e “Button”). A adaptação americana foi a única que não pegou quase nada da obra original, mas mesmo que suas conclusões sejam controversas a muitos, e que comparações com "Forrest Gump" são inevitáveis, este blog aprova o filme.
E quem não gostou de algum destes, reavalie seus conceitos vendo as cenas selecionadas e ligadas a este blog pelos links sobre os nomes dos filmes.
Assim sendo, a enquete já está aberta para saber de vocês qual foi O MELHOR DE TODOS!


quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

SHOW – RUÍDO/MM – SESC POMPÉIA – 12-01-10


Foto: site Scream & Yell


O 1º show do SINTEXTICO neste ano!! É realmente um marco a celebrar. Mas vamos aos finalmentes...
Chegando à choperia quase em cima da hora do show, ás 21 horas, corri para pegar o convite à apresentação do Ruído/mm pelo projeto Prata da Casa, não sem antes comprar ingresso para o “encontro musical” entre Paulinho Moska e o guitarrista argentino Pedro Aznar no próximo fim de semana (detalhes deste show em posts mais adiante).
Entrando no recinto, com um público de aproximadamente 150 pessoas (grande para uma terça á noite, segundo a própria banda), já tocavam sua primeira música, trazendo à tona um som esparso, “climático”, com “sons da natureza” junto a um piano. Embalaram rapidamente à segunda, em que buscavam claramente um estilo próprio muito próximo à banda estadunidense Explosions in the Sky – um som enérgico, mas também melodioso - ainda que de forma titubeante, com uma marcação excessivamente contada.
Quando eles conseguiram conjugar esse estilo ás características próprias da banda – de uma música mais ritmada ainda que leve, sem grandes repetições harmônicas – as canções soam completas e melhor acabadas, como em “Sanfona” (a melhor do show) e na canção “em homenagem ao amigo João Ricardo, vulgo João 23”. Algo além pôde ser visto nas improvisações jazzísticas ao final de algumas canções e na interessante troca das 2 guitarras e do baixo pelos integrantes.
No final, fica a impressão que a banda está no caminho certo para sua afirmação sonora, ainda que não tenha chegado lá. Nota 6,5


sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

MELHORES ÁLBUNS DE 2009 – OS INDICADOS

Foram escolhidos os cinco discos que vão entrar na enquete definitiva dos MELHORES DO ANO de 2009. São eles:

THE XX – xx
MAGNOLIA ELECTRIC CO. – Josephine
BAT FOR LASHES – Two Suns
ANTONY & THE JOHNSONS - The Crying Light
JÓNSI & ALEX - Riceboy Sleeps


Dois deles não foram escolhidos como “melhores” em nenhuma categoria, e um dos artistas teve apenas outra obra destacada anteriormente, mas é bom não desprezar nenhum dos concorrentes.


Por via das dúvidas estes álbuns, assim como os outros, terão links para download destacados no blog e podem ser baixados clicando sobre seus nomes.


A partir daqui, a enquete estará aberta para sabermos quais destes vocês acham o melhor do ano que se foi.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

ROUBO DE INGRESSOS ESCANCARA CRISE DOS CAMBISTAS

Antes de entrarmos no mérito do MELHOR DISCO DO ANO, vamos falar de outro assunto...


Uma notícia recente causou espanto a quem acompanha o mercado musical brasileiro. No início de dezembro, ladrões armados pararam um carro-forte para roubar lotes de ingressos de grandes shows internacionais que se realizarão no Brasil no início deste ano de 2010, sendo eles os shows das bandas Metallica, Coldplay e Cranberries, em São Paulo e no Rio de Janeiro. Os lotes estavam sendo levados para a sede da Ticketmaster, empresa revendedora dos ingressos, onde seriam colocados á venda via internet. Num gesto rápido, a empresa cancelou os lotes de ingressos para evitar que caíssem na mão de cambistas. Se você já tem ingresso para um destes shows, saiba aqui se seu ingresso foi invalidado para o concerto.

Esse gesto mostra a que ponto o controle das revendedoras sobre os ingressos impressos está mais forte fazendo com que a indústria que alimenta os cambistas, claramente de origem criminosa, entre em desespero pois até recentemente não era preciso uma ação tão arriscada e contundente para fazer com que os ingressos chegassem às mãos deles. Bastava apenas organizar bandos que iam às bilheterias para pegar lotes inteiros através de acordos pagos geralmente aos revendedores ou bilheteiros. Assim, com acesso fácil e os ingressos se esgotando rapidamente, alimentam ainda mais a vontade dos fãs, que não desejam perder determinado show fazendo com que recorram.... aos cambistas, lógico.


O blog SINTEXTICO já caiu nessa arapuca uma vez, depois que foi anunciado que os quase 900 lugares do Auditório Ibirapuera para os shows de Cat Power e Antony & The Johnsons em outubro de 2007 se esgotaram em menos de 3 horas. Após algum tempo sem perspectiva de obter ingressos, entrou-se em contato com um telefone de cambista distribuído pela internet. A facilidade do “serviço”, que contrata até motoboy pra levar o ingresso à sua porta, seduz muita gente que acaba se fidelizando a esses vendedores mesmo pagando ágios que variam de 100 a 200% (o ingresso de R$ 80 custava R$ 250, e o de R$ 120 passou a R$ 350).


Chegado o momento do show, percebeu-se que essa correria foi inútil pois muitos estavam revendendo quase a preço de custo ingressos que não poderiam ser aproveitados por pessoas ausentes do local. Daí entra o segundo elemento que parece estar minando os cambistas: os desistentes de última hora. Algo já comum na Europa e que claramente cresce no Brasil é o hábito de buscar na internet ou na porta dos locais dos shows pessoas que possam vender ou comprar ingressos desses desistentes.


Vendidos por amigos ou conhecidos, fazem isso para que o prejuízo pela ausência seja o menor possível. Este blog também se utilizou dessa tática uma vez, antes do show da banda Beirut no Via Funchal em São Paulo em setembro de 2009, conseguindo comprar o ingresso por um preço ainda menor que o valor de face do ingresso. Ainda assim, vale lembrar que mesmo na Europa ainda existem cambistas “profissionais”, portanto isso é algo que não acaba da noite para o dia.

Sendo assim, será que é melhor comprar ingressos que já estão nas mãos dos cambistas, mesmo sabendo do que estaria por trás dessa comodidade, ou então esperar até o momento certo de demonstrar o quanto se quer ver determinado show e assim conseguir um ingresso? A mesa está aberta às manifestações...

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

MELHORES DISCOS DE 2009 - PARTE 1 1/2

Hoje começamos uma série em que serão apresentados os melhores álbuns de 2009. Eles foram separados em categorias até que no final seja revelado o MELHOR DISCO DE 2009. Essa lista foi feita a partir de discos os quais posso destacar sem medo e sem ordem de preferência, exceto quanto ao “escolhido” em cada categoria. Vamos a ela:




MELHOR EP



AMIINA – Re Minore – Como um quarteto de cordas islandês cria música orgânica de maneira quase rústica, e ainda adiciona elementos novos para sua música, como uma bateria marcante e harmoniosa? Com apenas 3 músicas, que deram um novo rumo à carreira. Simples assim.


Mais: EP Re Minore


Outros destaques: BEIRUT – March of the Zapotec / Realpeople Holland (incursões pelo mariachi e electro, sem mistura); ANTONY & THE JOHNSONS – Another World (mais de sua arte, em músicas compostas no início de carreira)


MELHOR 2º DISCO DE CARREIRA

BAT FOR LASHES – Two Suns – Depois de um primeiro disco em que parecia emular Cat Power e Bjork (não que seja ruim, entendam), a cantora Natasha Khan, britânica filha de paquistaneses, se libertou de suas referências para consolidar seu universo próprio. Isso é que é prova de maturidade. Destaques para “Pearl´s Dream”, “Glass” e “The Siren Song”.




Outros destaques: NOAH &THE WHALE – The First Days of Spring e BARZIN – Notes for an Absent Lover (bonitas representações de um coração partido, um jovem e outro já experimentado); o já citado JACK PEÑATE; CHARLOTTE GAINSBOURG – IRM (En la recherche de la expression perdue)


MELHOR DISCO BRASILEIRO

OTTO – Certa Manhã Acordei de Sonhos Intranquilos – Não valorizado pela gravadora nacional, arrasado por uma separação, fez de tudo e mais um pouco para reunir seus entes mais próximos para fazer um disco melancolicamente vibrante, de enorme substância. A produção americana ajudou a valorizar os timbres junto à percussão orgânica e no final todos saíram ilesos. E nós ficamos com esse belo legado. Destaques para “6 Minutos”, “Filha” e “Lágrimas Negras”.


Mais: Álbum "Certa Manhã Acordei de Sonhos Intranquilos"


Outros destaques: OS MUTANTES – Haih ou Amortecedor (bela expressão de pujança criativa, uma visão brasileira do mundo de hoje mesmo com os pés nos anos 60 e uma bela ajuda de Tom Zé); ZÉLIA DUNCAN – Pelo Sabor do Gesto (disco delicado e de veia pop); TIÊ – Sweet Jardim (grata surpresa, de voz singela e expressiva); e MÓVEIS COLONIAIS DE ACAJU – Complete (disco mais polido, mas ainda assim festeiro).




MELHOR “VOLTA POR CIMA” – Aqui estão discos que representam uma virada mais notável na carreira de artistas que estavam obscurecidos por obras menos relevantes ou desaparecidos do cenário.



MAGNOLIA ELECTRIC CO. – Josephine – Esse grupo do estado americano do Idaho estava perdido desde que deixou suas raízes country-folk de lado para aventurar-se em turnês infindáveis regadas a rock de garagem. Foi preciso a morte do baixista para que todos voltassem às raízes e valorizassem aquilo que era mais essencial em sua obra. E assim as coisas voltaram ao seu rumo. Destaque para “Josephine”, “Map of the Falling Sky” e “Shiloh”.


Mais: Álbum "Josephine"

Outros destaques: JASON LYTLE – Yours Truly the Commuter (após o fim do Grandaddy, nada como voltar à velha forma); WILCO – The Album (despretensioso como há muito não se via); os já citados LEONARD COHEN e OS MUTANTES; MOBY – Wait for Me (álbum puramente pessoal) e AIR – Love 2 (leve e faceiro).


Ainda esta semana, a 2a parte do especial MELHORES DISCOS DE 2009. Deixe sua opinião!

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

MELHORES DISCOS DE 2009 - PARTE 2

Continuando a saga dos melhores discos em várias categorias seguimos com:

 

MELHOR COLETÂNEA



DARK WAS THE NIGHT – Lançado originalmente no fim de 2008, reuniu artistas americanos de berço, origem ou passagem, sendo mais um esforço da organização Red Hot para lembrar através da música do alastramento e da dor causada pela AIDS, e pode-se dizer que este é o melhor lançamento da série. Mesmo tendo artistas veteranos e novatos, e músicas de tons e estilos ligeiramente diversos, não há música que possa ser descartada. Destaques para a primeira aparição da dupla Jónsi & Alex como Riceboy Sleeps (“Happiness”), numa canção ambient pungente; a interpretação soberba do My Brightest Diamond para standard eternizado por Nina Simone (“Feeling Good”); e o folk de Conor Oberst com Gillian Welch (“Lua”) e Feist com Ben Gibbard (“Train Song”), entre outros.


 MELHOR DISCO POP 




JACK PEÑATE – Everything is New – Mesmo sendo mais um entre as centenas que participam de “reality shows” musicais e depois encaram a realidade dura da vida, não teve dúvida em mudar de rumo depois de um primeiro disco insosso. Seu produtor fez por ele uma transformação quase à la Amy Winehouse, com muito groove, sotaque britânico bem evidente, músicas fortes e descaradamente pop. Uma bela surpresa. Ouvir com atenção “Tonight´s the Night”, “Everything´s New” e “Be the One”


 Mais: Álbum "Everything is New"


MELHOR DISCO AO VIVO






LEONARD COHEN – Live in London – Este canadense teve o dom de transformar o espaço impessoal do O2 Arena num local aconchegante e cheio de emoção e energia, do alto de seus 75 anos. Um espetáculo ruidoso e marcante. Destaque para “If It Be Your Will”, declamada por ele e depois cantada por seu coro feminino.


MELHOR BANDA NOVA





THE XX – XX – Da tradição de duplas de ambos os gêneros, esse britânicos tiraram o gosto pelo embate entre suas visões e expectativas, mas de uma forma muito mais sofisticada e até inesperada para um grupo tão novo, recém chegado aos 20 anos. Destaques para “Islands”; “Shelter”, uma música que expressa insatisfação de forma mais direta que qualquer grito emo/hardcore atual; “Basic Space” e “Night Time”


Mais: Álbum "xx"


Outros destaques: FANFARLO – Reservoir (uma bela tentativa de fazer uma música envolvente); THE PAINS OF BEING PURE AT HEART (quase uma enciclopédia de sons britânicos dos anos 80, mesmo sendo americanos); JÓNSI & ALEX – Riceboy Sleeps (ambient music para as novas gerações)



Logo, revelaremos quem de todos esses artistas foi escolhido o MELHOR DO ANO 2009.
Mas antes, será feita uma enquete em que serão escolhidos alguns dos artistas destacados neste e no post anterior para que votem naqueles que consideram os melhores. Pouco depois será divulgado o felizardo. Quem será ele?



sábado, 2 de janeiro de 2010

DECLARAÇÃO À NAÇÃO


Sejamos francos, de uma vez por todas. Sou a favor da comunicação a partir de qualquer meio. Portanto, se achava ver aqui algo contra a tecnologia atual de troca de textos curtos e “informativos” achou errado. Só penso que isso não pode ser tudo, assim como não se pode considerar uma pessoa “bem informada” só porque leu todos os novos posts do Twitter ou “bem formada” porque leu todos os livros de Kant, Saussere ou Marx. Pois se não há a obrigação de saber tudo, o que não pode haver no mundo de hoje são restrições. E nisso incluo as mais banais que são proferidas aos altos brados diariamente, do tipo “não vou ler Paulo Coelho” ou “não vou comer carne vermelha porque faz mal”. Deve-se ter a consciência sobre aquilo que se diz e faz, para não incorrer na possibilidade de proferir “verdades estabelecidas” que são repetidas sem que se saiba o motivo. Se não se sabe algo sobre tal assunto, esteja certo de ao menos buscar saber, ou de procurar quem sabe. E isso é algo que coloco a mim e a todos que porventura aqui passarem, lendo ou colaborando.
A partir disso, digo que esse não será um espaço onde se falará “apenas” de um tal assunto. Lógico que tenho minhas preferências e especialidades, mas digamos que esse será um local para a prática daquela conhecida ciência da comunicação chamada “jornalismo”, mas sem a pompa de um veículo estabelecido para tal. Pretendo tratar de música, artes em geral, crítica cotidiana, política, esportes, talvez nessa ordem de prioridades, mas segundo a necessidade de expressão de cada momento. Já tive um espaço chamado To Kill a Dead Man (neste mesmo site) onde falava das mesmas coisas, mas confesso que os textos ali eram por demais digressivos. Por isso mesmo estabeleço com quem porventura ler esta declaração o compromisso de que este post será dos mais longos dentre os que forem publicados. Afinal, o nome “SINTEXTICO” é para lembrar algo sintético, breve, objetivo. Mas lembro a vocês de que isso não é uma regra fixa, ou seja, não haverá restrições. Conforme a necessidade de expressão, irei ultrapassar este limite auto-imposto sem peso na consciência. Assim, não pretendo retalhar palavras para caber em um espaço delimitado nem discorrer longamente sobre algo que poderia ser melhor acompanhado através de alguém mais especializado. Considero esse ao menos um início honesto e claro sobre as atividades que serão desenvolvidas aqui, que espero atendam também às necessidades e prazeres de quem chegar a estas informações. Sejam bem-vindos, e aproveitem para comunicar-se livremente. Para isso, ao menos, já não há restrições.