DECLARAÇÃO À NAÇÃO

"Jormalismo", música, artes em geral, crítica cotidiana, política, esportes, talvez nessa ordem de prioridades. Algo sintético, breve, objetivo, mas sem restrições. Sejam bem-vindos, e aproveitem para comunicar-se livremente.

Mais do mesmo assunto no primeiro post deste blog

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

ÚLTIMOS LANÇAMENTOS 2012/2013

Depois do último post só sobre os lançamentos brasileiros, voltemos nossos olhos para o mercado gringo, não sem um parêntese: vieram me falar informalmente da falta de menção ao disco novo da Orquestra Imperial, "Fazendo as Pazes com o Swing", disponível para download no link ao lado, no último post dos lançamentos de dezembro, tanto que houve até um show recente deles no Carnegie Hall em New York lotado e muito animado ao que parece (este link só vai ver quem tem conta no Facebook, ou seja, quase todo mundo hoje no Brasil). Só que o disco foi lançado em novembro...

É por enganos como esse que se faz necessário botar os pingos nos "i"s e  colocar a todos em sintonia com o espaço-tempo que vivemos. Mas, aproveito para dizer que o disco é muito bom e seguro em sua proposta, enriquecida com a participação de Nelson Jacobina, que inclusive ilustra a capa do disco, em sua última empreitada antes de sua morte (sim, ele morreu, nem parece, né? é bom quando a celebração das coisas que uma pessoa fez em mim é tamanha que ofusca o fato de que ela não está mais entre nós). E assim passamos ao próximo capítulo.


EL PERRO DEL MAR - Pale Fire: A carreira desta sueca com nome artístico em espanhol poderia ser colocada em paralelo ao de outras cantoras suecas, como Lykke Li, Ane Brun, Robyn (tá bom, aqui eu exagerei), alternando momentos de grande suavidade e erudição com outros de forte inclinação ao pop deslavado... aliás, acho que a Suécia tem uma tradição de cantoras até maior que o Brasil... é quase uma produção em série!
Após um álbum mais saidinho chamado "Love is Not Pop", ela se viu no meio de nuvens negras que anunciaram um período de trovoadas e busca por abrigos confortáveis e seguros. Ok, isso parece cliché, mas foi exatamente o que aconteceu. "Pale Fire" é exatamente aquilo que se esperaria de um álbum com esse nome e esta capa: cheio de momentos de respiração (e silêncios) e canções mais "pálidas", ainda que boas de se ouvir. Um pouco dos experimentos eletrônicos pregressos ainda persiste, mas não tente ouvir este disco perto de um motor de ônibus, ou andando na calçada de uma grande avenida. Ainda assim ele vale a sua audição mais cuidadosa.

Outros acontecimentos interessantes são o fim da trilogia pop-punk do Green Day, com o lançamento de "Tré!" (ufa!!), e um novo experimento do ex-ícone pop, agora bardo pós-moderno, Scott Walker que em seu "Bish Bosch" (surpresa!!) traz mais canções propriamente ditas do que seus últimos álbuns, com estruturas mais definidas, ainda que o estranhamento persista. Ah, também tem um monte de lançamentos de discos de hip-hop (ou o que sobrou dele) e do Bruno Mars, que faz muitas meninas enlouquecerem, como Tata Werneck, a humorista mal-humorada da MTV (por ela dou graças que não vai ter mais o "Comédia")

Só que o post não termina aqui, não! Pois "lançamento" hoje em dia não é só aquele álbum que alcança a prateleira da loja alternativa da sua galeria favorita ou da megastore que você adora esnobar mas onde sempre dá uma passadinha. Não, não... lançamento hoje também pode ser o disco que a banda PENSOU em lançar em uma data, mas que vaza na internet com antecedência proporcional à expectativa por ele gerada em seu público.

Por isso álbuns que estavam com "lançamento" previsto para 2013 já estão nos seus melhores provedores piratas ou de torrents! (Vocês já sabem quais são, não é?... Não? Não se preocupe, beócio, você vai ver vários deles nos links deste local). Um deles é o 17° álbum do Yo La Tengo, banda americana que era super prolífica, mas que agora está apenas no seu 2° álbum completo em um intervalo de 6 anos. A fonte da criatividade secou? Só vai saber quem ouvir o disco "Fade", previsto para o fim de janeiro, mas já vazado. Também tem o álbum de um dos "darlings" do electro rock modernoso, Toro Y Moi. "Anything in Return" estava previsto para sair em fevereiro, mas já esta aí para quem quiser ouvir.


Mas o campeão no quesito expectativa gerada + "vazamento antecipado" + resultado acima da média é certamente o LOW, com seu álbum "The Invisible Way". Seu lançamento estava previsto apenas para o fim de março de 2013, contudo exatos 3 meses antes o álbum já estava disponível, causando certo alvoroço e grande surpresa, já que muita gente interessada na banda ainda nem sabe que ele já está dando sopa por aí.

Mas a expectativa era realmente muita, considerando as informações prévias: o disco foi produzido por Jeff Tweedy (líder do Wilco), gravado no mesmo estúdio da banda em Chicago, novo e moderno, e com o mesmo engenheiro de som dos primeiros álbuns do agora secular grupo, que está completando 20 anos de estrada, mesmo sobrevivendo apenas no circuito underground. Ajudou muito na sobrevida do grupo não apenas assinar com um selo tradicional no cenário, a SubPop Records, de Seattle (gravadora "berço" do grunge), mas o fato da internet ter feito seu som esparso, atmosférico e hipnotizante (rotulado de "slowcore") chegar a todos os cantos possíveis. E é a internet que agora oferece o disco de forma tão antecipada.

Arrisco dizer aqui que este é um álbum que pode decepcionar a muitos, pois ele vai na contramão da expectativa destes, que com a junção do Low com o Wilco imaginavam certamente um som expansivo, guitarreiro, cheios de raiva e canções rasgadas de amor (e dor). Mas não é isso o que ocorre. A introdução aqui já diz o que vai haver musicalmente em todo o disco: um violão acústico, um piano em primeiro plano (novidade na banda, diz-se que ele foi tocado por Ben Gibbard, da banda Death Cab for Cutie, que já tocou o instrumento com o Low em sua recente turnê, documentada no disco recém-lançado "Low Plays Nice Places") e canções de construção simples, baseadas geralmente em 2 movimentos e 1 refrão. É o disco mais folk deles em muito tempo, mas também um dos mais estranhos, crus e diretos.

Se em "Plastic Cup" ainda vemos um pouco do humor sarcástico de Alan Sparhawk, quase metade do disco é cantado por Mimi Parker, o que confere maior leveza ao álbum. E ao mesmo tempo em que a crueza na interpretação é realçada em músicas como "Amethyst" e "Clarence White" (bela homenagem ao guitarrista do Byrds), pela primeira vez vemos em suas músicas manifestações mais explícitas de suas convicções religiosas, como em "Holy Ghost" e "Mother", o que não tira delas sua beleza. O disco então vai nesse ritmo que para alguns pode parecer repetitivo, modorrento, mas significa apenas uma busca por uma leveza descompromissada, sem necessidade de atingir picos de emoção para se manifestar grandiosa. Certamente é um disco que vai levar tempo para ser compreendido. Talvez por isso o vazamento tenha sido feito tanto tempo antes do "lançamento".






terça-feira, 18 de dezembro de 2012

O QUE ESTÁ EM JOGO NA BRIGA TIGRE VS. SÃO PAULO CONTRA CONMEBOL

Hoje, muitos estão pelas ruas comemorando o título mundial do Corinthians, aliás merecido. Enquanto isso, vários outros personagens do futebol sul-americano se engalfinham em uma batalha inglória. Tudo começou na final da Copa Sul-Americana entre o São Paulo e o Tigre, pequeno time de bairro da cidade de Victoria, província de Tigre, nos arredores de Buenos Aires, que pela primeira vez em sua história de mais de 100 anos chegava a uma final internacional (N.E.: isso lembra um time paulista que conheço... mas deixa pra lá).

No campo, mesmo com o placar marcando "somente" 2x0 após o fim do 1° tempo da segunda partida, era nítida a superioridade do São Paulo sobre o combativo e muitas vezes violento time argentino, que parecia jogar como os "hermanos" faziam até a década de 90, indo além da "catimba", que seria uma malandragem disfarçada, para se comportarem de forma explicitamente intimidatória.


Contudo, incidentes no intervalo desta segunda partida fizeram com que o time argentino decidisse não retornar para o segundo tempo. O que aconteceu? O time argentino diz que foi agredido por policiais e seguranças armados no vestiário e que isso abalou a todos de tal modo seguir jogando seria impossível. O São Paulo diz que seus seguranças apenas contiveram jogadores que queriam entrar em um corredor que acabava no vestiário do time brasileiro. Mesmo que nenhum dos lados tenha feito muito para serem considerados dignos de total idoneidade, visto que já haviam trocado farpas em outras ocasiões durante a decisão, este é um episódio que ainda terá vários desdobramentos.

Um destes desdobramentos tem a ver com as sanções que podem ser aplicadas, desde interdição do estádio para competições sul-americanas até suspensão do clube por um determinado período. Tudo porquê ainda será apurada a responsabilidade pelo incidente. O problema é que o histórico de punições da CONMEBOL não é animador. Mesmo já tendo finais interrompidas após incidentes (Santos 2 x Peñarol 3, pela Libertadores de 1962), a única ação efetiva da entidade foi uma punição ao Corinthians graças a uma briga generalizada de sua torcida contra a polícia após a eliminação do clube da Libertadores de 2006.

Sobre as responsabilidades no ocorrido, cada um pode tomar partido de quem quiser. Mas a questão é pensar no que se perderia ao se punir um ou outro lado, pois esta não é uma atitude em que apenas a justiça está em jogo, mas a política da entidade CONMEBOL também está em xeque aqui. A esta altura, não há evidências fortes de que o São Paulo tenha "provocado" a confusão, portanto será difícil que ela puna o São Paulo com a perda do título, visto que a diferença técnica era muito grande, ou expulsão da próxima Libertadores, mas ainda é possível que o clube perca o mando de campo para as competições da entidade.


O corda para o Tigre está mais apertada. O histórico recente mostra que eles estavam muito mais propensos a um enfrentamento do que o time do São Paulo, o que faz sua tese de que o clube preparou uma "emboscada" para eles no vestiário ficar muito frágil. Mesmo as imagens feitas por um dos jogadores não revelam nada. O problema para o Tigre é que se vier à tona que a confusão toda foi provocada por eles, isso legitimaria a punição que a entidade já prevê para o caso de WO, que foi o que ocorreu no segundo tempo: 3 anos fora de competições internacionais, para um clube que também está classificado à próxima Libertadores.

Mas por quê o Tigre tem vaga, se ficou em posição intermediária na contagem agregada de pontos do Campeonato Argentino? Aí entra um outro elemento na estória: Julio Grondona, presidente "ad eternum" da Federação de Futebol da Argentina. Ele é um hábil articulador político, visto que está no poder desde 1979. Ele, como grande aliado da atual presidente argentina Cristina Kirchner, apoiou todas as suas iniciativas para "democratizar" o futebol argentino, através do projeto "Fútbol para Todos". Com isso, redistribuiu as cotas de televisão entre os clubes e bateu o martelo para que o próprio governo se apropriasse das transmissões através de seu canal público.

Outra marca desta cooperação mútua foi a iniciativa de recriar a Copa Argentina, que assim como a Copa do Brasil passou a classificar também à Copa Libertadores (mas só a partir do ano que vem; este ano o Boca Juniors foi campeão e pôde "apenas" jogar a Sul-Americana). Uma das marcas deste torneio é de que todos os jogos aconteceram pelo interior da Argentina, não nas sedes usuais dos clubes, como queria Cristina Kirchner. Mas o fato de Julio Grondona ter "encaixado" seu campeão nas competições sul-americanas mostra também sua grande influência junto à CONMEBOL.

Outra grande tacada de Grondona foi conseguir uma vaga exclusiva para a Argentina na Libertadores a partir da Sul-Americana. Ou seja, não é apenas o campeão da Sul-Americana que vai à Libertadores do ano seguinte, mas também o melhor time argentino na competição. E é aí que entra o Tigre, pois ele está classificado à Libertadores 2013 exclusivamente por causa deste arremedo construído pela presidente de sua federação, interessado de que mais clubes pequenos "ascendam" rumo a posições melhores no cenário sul-americano.



E então, como fica a CONMEBOL em relação a uma possível decisão de punir o Tigre? Será que eles confrontariam Julio Grondona, que parece mais sólido no poder que um "padrino" e que já declarou apoio ao Tigre, mesmo com todas as evidências em contrário a respeito do que sustentam como verdade? A AFA blefa dizendo que não quer se envolver nas decisões da CONMEBOL, exatamente para "não alimentar atritos". Mas como serão os acordos que estão sendo costurados "por baixo do pano", comportamento este tão característico das nossas democracias sul-americanas? Por isso e mais um pouco, não podemos dizer que se fará justiça neste caso, pois afinal este não é o único contexto em que Justiça e Política se confundem, pois mesmo que todo ato de justiça seja político, pois afinal se toma partido por um ou outro lado, às vezes o bom senso acaba não prevalecendo.