DECLARAÇÃO À NAÇÃO

"Jormalismo", música, artes em geral, crítica cotidiana, política, esportes, talvez nessa ordem de prioridades. Algo sintético, breve, objetivo, mas sem restrições. Sejam bem-vindos, e aproveitem para comunicar-se livremente.

Mais do mesmo assunto no primeiro post deste blog

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

UM POUCO ALÉM DO ESPORTE BRETÃO – DE CORNETAS E INTERESSEIROS

Há quem pense ter uma influência maior do que revela a realidade, ou que na verdade apenas quer manter aparências para quem ainda crê nelas. Em um mundo de comunicação veloz onde as notícias são espalhadas pelas dezenas de veículos de várias mídias muitas vezes como ecos de um grito num precipício, apenas como repetição, quem emite uma opinião qualquer acaba caindo numa faca de dois gumes: ou mostra personalidade frente à opinião pública; ou deixa entrever algum interesse escuso.

Um ótimo exemplo disso se deu no último domingo, com a partida Corinthians x Palmeiras no Pacaembu, em São Paulo. Quem acompanhou a partida pela rádio Jovem Pan, rede nacional líder entre as AMs, teve a impressão de um tom mais áspero na transmissão da partida. Muitas opiniões, proferidas principalmente pelo jornalista Flávio Prado, mostravam um clima de confronto e disputa diferentes do que se via em campo. Vejamos algumas dessas opiniões:

“Nunca vi tão pouca gente num clássico desse porte.”

Primeiro exemplo de mal jornalismo aqui: isso é dito a partir de um ponto de vista individual que sequer dá oportunidade para outros de se certificarem do que ele está dizendo. Esse poderia ser considerado um vício comum a alguém como ele que trabalha tanto em TV como em rádio, pois são muitos os que ainda acreditam na máxima de que "uma imagem vale mais do que mil palavras". Mas o pior é que nenhuma informação é dada sobre o fato, ou seja, devemos literalmente confiar "cegamente" no que ele está nos dizendo. Mas o argumento acaba sendo facilmente derrubado quando confrontado com um dado para ele irrelevante: o número declarado de pagantes foi de mais de 28 mil, sendo que no último jogo entre eles (que nem foi em São Paulo) o público foi de apenas 18 mil.

“A TV rouba gente do estádio”

Essa afirmação está possivelmente embasada no fato de que a partida estava tendo transmissão da TV para a própria cidade onde era realizada, e de que este canal de TV (preciso dizer qual é?) é o que detém a liderança hegemônica da mídia deste país. É um argumento válido, mas foi dito como se fosse um fato inédito, o que logicamente não é. Além disso está baseada no fato de que devemos ter acreditado no que ele disse antes, sendo que sua visão já era totalmente parcial e equivocada. Isso mostra que a "inverdade" inicial acaba desqualificando qualquer "boa intenção" do discurso.

“Olha lá, o repórter da TV tá (sic) depois da linha, porque o nosso tem que ficar atrás?”

Aqui, além da repetição do erro de querer que a gente veja o que não podemos ver, cabe um esclarecimento a respeito do porquê de tal questionamento: a Jovem Pan iniciou uma campanha contra uma medida da Federação Paulista de Futebol de não permitir repórteres em campo, algo que para eles beneficia ao tal "canal que detém a liderança hegemônica da mídia". Apesar de tal medida ser estendida a todos os profissionais, a rádio tomou as dores para si e toda e qualquer opinião dela acaba sendo feita para fortalecer essa idéia. Portanto, infelizmente nem mesmo podemos garantir que o tal "repórter da TV" estava realmente infringindo a regra se não confiamos ("cegamente", lembrando) que tudo que foi dito até então era verdadeiro.

Há um certo desconforto quando se percebe que aquilo que se vê e ouve é feito para embasar uma determinada tese de um veículo de mídia, não para esclarecer um fato. Além disso, essa é uma briga de cachorro grande, pois se o canal de TV é acusado de homogeneizar o pensamento nacional mostrando para todo o país um "mundo ideal á parte" no Rio e em São Paulo através de suas novelas, a rádio Jovem Pan não faz diferente ao montar em sua rádio FM uma rede com o pior do pop mundial, onde se ouve a mesma porcaria do Black Eyed Peas de Norte a Sul, sem espaço para qualquer expressão local. Ou seja, é o roto falando do esfarrapado.

Outra possível razão para esse confronto é a própria perda de espaço do rádio nas grandes cidades, pois assim como os torcedores acompanham as partidas através dos celulares com TV em um número sempre crescente, eles estão cada vez mais cansados das narrações radialísticas que falam mais dos patrocinadores que do próprio jogo (saudades de Osmar Santos e Fiori Giglioti.. :( )

Além disso esta campanha talvez sirva para se pensar numa possível crise da mídia nacional, onde cresce a sensação de que não há mais "pensamento único", e que há cada vez menos inocentes "cordeirinhos" para seguir os muitos "pastores" (ou simplificando, cada vez menos índios pra muito cacique). O Jornal Nacional não repercute mais como antes, assim como o rádio também perde espaço para mídias mais plurais e ágeis como a internet. Aliás, digo que se o próprio rádio não tivesse migrado suas transmissões para a rede, de maneira autorizada e legal, já estaria hoje num processo de falência mais forte que o das gravadoras.

Assim, os outrora “gigantes” da mídia brasileira, que a bem da verdade continuam ainda sendo os maiores, tem que mostrar cada vez mais serviço para não perderem seus públicos para veículos que mostram um “outro lado” daquilo que se está falando.

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