DECLARAÇÃO À NAÇÃO

"Jormalismo", música, artes em geral, crítica cotidiana, política, esportes, talvez nessa ordem de prioridades. Algo sintético, breve, objetivo, mas sem restrições. Sejam bem-vindos, e aproveitem para comunicar-se livremente.

Mais do mesmo assunto no primeiro post deste blog

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

MELHORES (E PIORES) FILMES DE 2009


Pensou que não ia haver lista de melhores filmes? Pois aqui está! A apresentação segue a mesma lógica dos melhores discos, separados em “categorias” dignas de um Oscar (ou, mais “modestamente”, de um César...). Os escolhidos são:

MELHOR ADAPTAÇÃO LITERÁRIA




GOMORRA – Dir: Matteo Garrone (ITALIA) – Aqui, o mérito está não apenas em apresentar decentemente a obra de Roberto Saviano, escritor agora cerceado pelas ameaças. Mas também nos recortes dados na estória original que ajudaram a iluminar ainda mais o círculo vicioso comandado pela Camorra napolitana, colocando isso de forma não conclusiva, pois ainda que as ações anti-máfia tenham resultado será difícil tirar destas pessoas a mentalidade de que é melhor tirar vantagem sobre o próximo do que trabalhar junto a ele (vide as impactantes estórias do alfaiate e do rapaz que é levado a se envolver com negócios escusos). Um grande filme, que merecia ter mais atenção do que teve.

MELHOR FILME “BASEADO EM FATOS REAIS




KATYN – Dir: Andrez Wajda (POLÔNIA) – Este é mais um filme de guerra, mas ligeiramente diferente da média. Primeiro, por focar algumas visões mais pessoais sobre a “resistência” polonesa à ocupação alemã, onde se brigava mais no campo das idéias do que no campo de batalha. Segundo, por mostrar a expectativa dos prisioneiros de guerra de que a verdade sobre a condição deles seria revelada e passada adiante. De todos os lados, Wadja quis mostrar os poloneses como vítimas, mas nunca passivos de sua situação.

MELHOR FILME NACIONAL




TERRA VERMELHA – Dir: Marco Bechis (ITALIA-BRASIL) Num ano em que as produções brasileiras de ficção foram em geral problemáticas ou muito fracas, o filme que melhor aborda o país e que traz em si uma estória mais verossímil foi realizado por um italiano (a bem da verdade, este diretor é na verdade um “cidadão do mundo”, tendo já morado inclusive em São Paulo). Mostrando conflitos entre uma tribo de uma reserva de Dourados (MS) com um fazendeiro local de uma forma imparcial e ainda assim afirmando sua posição em relação á degradação da região, este filme dá a nós, seres urbanóides, uma boa idéia do que ocorre no Brasil profundo e distante cujo cotidiano parecemos ignorar.

MELHOR DOCUMENTÁRIO




VALSA COM BASHIR – Dir: Ari Folman (ISRAEL) – Um filme pessoal e instigante, que ultrapassa várias barreiras metalinguísticas auto-impostas a muitos realizadores. Ele talvez não tivesse muito a dizer a respeito do assunto central de seu projeto no início dele, mas foi exatamente a busca por respostas que o instigou a ir adiante. Com isso, sem ser um filme de guerra, nem puramente (psic)analítico, através do universo “lúdico” e distanciado da animação o diretor nos prepara para o baque final, quando o subconsciente se torna consciente e tudo se encaixa. Mesmo que essa revelação não seja muito agradável a respeito da natureza humana.

MELHOR FILME DA MOSTRA INTERNACIONAL DE SÃO PAULO




35 DOSES DE RUM – Dir: Claire Daines (FRANÇA) – É um prazer assistir um filme assim, com uma estória dramática, mas não melancólica; pungente, mas não pesada; e por fim por suas conclusões otimistas, mas realistas, a respeito da vida. Um pai e uma filha que se vêem de uma hora pra outra de luto, sozinhos no mundo, tendo de tocar a vida e encarar as pessoas com a mesma força e ainda esperando que algo ou alguém os faça mudar de rota. Nestas horas não vale mesmo a pena se isolar, é a grande idéia deste filme, que também merece ser mais visto se assim o circuito nacional permitir.

E como não podia deixar de ser também abrimos espaço para o nosso “troféu Framboesa de Ouro” particular!!! A seguir, os piores do ano no geral e em suas categorias:

PIOR FILME DA MOSTRA INTERNACIONAL DE SÃO PAULO




SELVAGENS – Dir: Lawrence Gough (INGLATERRA) – A Mostra de SP é pródiga em apresentar filmes que na verdade deixam a sensação de uma enorme perda de tempo, por ser feita também de apostas (leia-se “tiros no escuro”) da curadoria, que nem sempre são certeiras. Este filme, por mais que tenha a chancela da BBC (que financiou grande parte do projeto), é uma salada mista de filmes de terror ao estilo “Jogos Mortais” com uma crítica asséptica e forçada à política belicista do governo britânico frente à “ameaça” terrorista, lidando também com o medo da população de um subúrbio de forma batida e ignorando a inteligência do espectador. O pior filme visto pelo blog nesta Mostra, por mais que haja a lenda de que sempre há filmes ainda piores por aí....

PIOR FILME DO ANO




LULA, O FILHO DO BRASIL – Dir: Fábio Barreto (BRASIL) – Apesar do filme ter estreado no início de 2010, ele é uma obra de 2009 e ponto final. E por mais que houvesse boas intenções, como sabidamente diz o povo “de boa intenção, o inferno já está cheio”. Além disso, este filme carrega muitos dos vícios das fases pré e pós-retomada da produção cinematográfica brasileira, desde gritarias inúteis a longos períodos sem fala não como recurso dramático, mas por falta de roteiro mesmo. Ao menos o filme não tem muita violência explícita nem palavrão, daí o “índice de clichê” seria ainda mais alto, e assistir o mesmo me fez ter uma enorme vontade de assistir “ABC da Greve”, de Leon Hirszman, um dos filmes que o diretor utilizou para dar estofo ao que não tinha substância, ou seja seu próprio filme.

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