DECLARAÇÃO À NAÇÃO

"Jormalismo", música, artes em geral, crítica cotidiana, política, esportes, talvez nessa ordem de prioridades. Algo sintético, breve, objetivo, mas sem restrições. Sejam bem-vindos, e aproveitem para comunicar-se livremente.

Mais do mesmo assunto no primeiro post deste blog

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

MELHORES SHOWS DO ANO 2012

Com esta postagem, iniciamos a nossa retrospectiva com os momentos artísticos mais marcantes deste ano de 2012 que acabou de terminar. Além dos melhores shows a serem destacados nesta postagem, o blog também irá destacar os melhores discos nacionais e internacionais (em categorias separadas) e os melhores filmes visto pelo SINTÉXTICO no ano que passou, numa abordagem semelhante à feita em anos passados, com alguma diferença.

Destaco em relação aos shows a profusão de grandes espetáculos e festivais estrangeiros que aportaram em São Paulo no ano que passou, para todos os gostos, desde o mais alternativo até o mais grandioso. A cidade foi realmente bastante visada pelos promotores tanto de entidades e prédios culturais como o SESC e o Auditório Ibirapuera, quanto casas de shows como Cine Jóia e HSBC Brasil, além também dos estádios (Morumbi e Canindé receberam vários concertos). Também é de se destacar a consolidação da montagem de óperas por companhias estrangeiras no Teatro Municipal, ainda que em ritmo menor neste último ano em relação ao ano passado quando de sua reinauguração.

Algumas lamentações ficam a respeito de locais que estão fechando as portas ou mudando de ramo, como o Via Funchal, e também os vários cancelamentos de shows que aconteceram pelos mais variados motivos. Björk precisou ficar de cama por um mês justo quando viria a SP com seu show "Biophilia"; Fiona Apple traria seu aclamado disco "The Idler Wheel..." mas uma semana antes sua cadela ficou muito doente e ela não quis viajar; Norah Jones perdeu seu pai Ravi Shankar também uma semana antes de show na cidade e cancelou todos os compromissos no país.

Dito isso, vamos tratar agora dos grandes acontecimentos de 2012:


5° CRIOLO - FUNARTE - 25/FEVEREIRO - O show começou tenso. Fãs que se sentiram enganados pela forma de distribuição de ingressos por parte da Funarte, por ela ter sido feita 4 horas antes do previamente divulgado, tentaram forçar entrada no teatro (que estava com apenas metade de sua capacidade ocupada) após o início do show. Após muita negociação, foi permitida entrada de todos quando se iniciava a 3ª canção, justamente "Não Existe Amor em SP", o melhor retrato dos tempos atuais em relação à exclusão e à falta de solidariedade que esta cidade transparece aos seus habitantes (ou seja, uns para com os outros). A lotação foi então para muito além da capacidade. Foi quando Criolo intercedeu pedindo "Respeitem o lugar, galera, sem depredar, porquê agora é tudo nosso", como que lembrando a todos (inclusive aos dirigentes da fundação) do caráter público da instituição, que deveria servir ao interesse deste público e nada mais. Daí pra frente a simbiose com o público e a catarse eram completas. Cada canção era quase gritada ao microfone ao invés de cantada, numa afirmação ainda mais contundente do que se cantava em "Lion Man", "Bogotá" e no bis com "Cerol", de seu primeiro disco. Respeito é isso.


4° RODRIGO CAMPOS e BENJAMIN TAUBKIN - CASA DO NÚCLEO - 22/NOVEMBRO - O show e o ambiente em que foi realizado transpareciam uma sensação de acolhimento, mais que de exclusividade, não pelo fato de terem sido 30 as testemunhas deste momento, mas por toda a leveza e simplicidade com que as músicas do ótimo disco "Bahia Fantástica", especialmente "Capitão", "General Geral" e "Ribeirão", foram retrabalhadas no piano de Benjamin Taubkin, mantenedor da Casa do Núcleo. Este parece ser o modus operandi do local: mais do que se sentir à parte da cidade dentro de um "núcleo intelectualizado", ali é um lugar onde a música está para ser compartilhada com quem possa vir apenas pelo prazer de senti-la e apreciá-la em conjunto.


3º AYNUR DOGAN - SESC POMPÉIA - FESTIVAL ISTAMBUL AGORA - 19/ABRIL - Muito antes de Glória Perez vir como um rolo compressor com sua visão (deturpada) da Turquia, o país já se tornara um destino turístico crescente e  "exótico" dentro do mercado brasileiro de turismo. Mas muitos dos que vão para lá tem apenas estas referências de massa como guia. Numa tentativa de mudar isso, o SESC organizou uma grande mostra da música que se produz hoje na Turquia e que é celebrada nessa grande metrópole que é Istambul. Turquia de nomes conectados à música do ocidente, como a jovem cantora Yasemin Mori e o grupo 123, que até fez uma cover de uma canção de Thom Yorke elogiada pelo próprio, e também de artistas ligados ás raízes da região, como Aynur Dogan, cantora de origem curda que sempre manifestou-se a respeito do "povo sem pátria" do qual faz parte. Sua performance mostra ao mesmo tempo uma grande lamentação e força transcendente que remete o ouvinte a uma zona de desconforto e admiração pela luz que ela nos traz. Que possa seguir nessa batalha inglória mostrando sua arte de forma plena.


2º KRAFTWERK - ANHEMBI - SÓNAR FESTIVAL - 11/MAIO - O festival de origem européia Sónar, baseado em Barcelona e com várias filiais no mundo, finalmente aportou por aqui e aparentemente vai ficar um bom tempo, graças à sede por música alternativa e experimental demonstrada pelo público paulistano. Com um pouco de quase tudo que é tendência musical e alguns shows magistrais (Justice, Ryuichi Sakamoto & Alva Noto, Mogwai, Squarepusher) e outros nem tanto (Chromeo, Cee-Lo Green, James Blake), o ápice se deu no primeiro dos dois dias com o Kraftwerk, com um inédito show em 3D que apenas reafirmou sua fundamental importância para o surgimento e transformação de várias destas tendências presentes no festival.


1º MORRISSEY - ESPAÇO DAS AMÉRICAS - 11/MARÇO - Ok, sejamos sinceros: o roteiro foi muito ensaiado e sem novidades; o local continua uma porcaria, mesmo tendo sido REINAUGURADO naquele dia depois de uma reforma interminável para se adequar ás mais mínimas exigências de acústica dentro e fora do espaço, sem muito sucesso; o show foi um reencontro com um ícone musical dos anos 80 que ainda não havia tido oportunidade de mostrar de forma completa por aqui sua farta e importante produção pós-mitificação em sua carreira como artista solo (o show de 2000 foi como um "ensaio aberto", não tão bem acabado), junto a canções dos Smiths apresentadas com arranjos próximos aos originais ("próximos" porquê ali não havia nenhum Johnny Marr). Mas não havia como reclamar da maneira como os fãs também se entregaram às músicas desse ícone, como "Everyday is Like Sunday", "Alma Matters" e "First of the Gang to Die". Queria que todo dia fosse divertido como aquele domingo.

Por ora, me despeço, mas logo mais vem as outras listas do ano passado. Boa semana iluminada para todos.